sexta-feira, dezembro 08, 2006

A máscara e a impureza

Shirley limpava a unha do pé com um clipe aberto, tirava uma massinha e levava perto do nariz, depois esfregava os dedos e tirava outra. O sopro da panela de pressão não a deixou ouvir a campainha. Era Basofa que apertava o botãozinho do lado de fora, não agüentou esperar e apelou pro tapa aberto na porta, aí a Shirley ouviu.

A vizinha chegou com creme no rosto, uma pasta branca ao redor dos olhos e da boca. Shirley perguntou o que era e a outra mostrou um potinho quase vazio, as mãos fedendo a cloro, e falava do marido, que era bom e potente.

Outro dia, a vizinha chegou sem avisar e pegou Shirley de calcinha desbotada preparando café. Os buracos de traça na parte de trás da veste não intimidaram Basofa, que queria mostrar as impressionantes fotos que havia feito do marido dormindo nu e provavelmente tendo um sonho erótico. Uma haste lustrosa partia do meio da cama, espécie de mastro sem vela, o que deixou Shirley curiosa.

A vizinha começou a contar a conversa que teve com o sobrinho magricela, que também viu as fotos e gostou muito do tio ali:

– Então ele coloca no potinho e dá pra usar uns três dias.

– Nossa, tia!

– Não tem nada melhor pra cravo.

– Pois eu levaria um tiro de cartucheira na cara, depois me jogaria num tanque de areia, só pra remover a sujeira dos buracos com esse creme facial.

– Que é isso, meu filho, eu ajeito um pouco pra você.

Shirley estava cada vez mais interessada nas propriedades esfoliantes, também queria o produto, mas teve vergonha de pedir. Basofa ofereceu, mas colocou alto preço, o que não diminuiu as expectativas.

Dias depois, Shirley areava as bocas do fogão e ouviu cutucões na parede. Lembrou-se que o banheiro da vizinha era logo ali atrás. O barulho cessou em poucos minutos, e em seguida tocou a campainha insistente. Basofa entrou com os cabelos molhados, alegre e com sorrisão opaco, contrastado com o alvo da máscara, o pote vazio nas mãos. Contava mais uma história de captura do prazer selvagem durante um banho corriqueiro que havia se transformado numa cachoeira de proteína e testosterona.

Shirley desistiu do pudor: implorou para ir até a casa da vizinha naquele momento. Se pudesse atravessaria as paredes num ímpeto incontrolável, mas Basofa ponderou. “Deixa ele descansar um pouco. Enquanto isso, a gente negocia”. “Eu não agüento mais esperar”. Basofa insistiu na negativa e transpareceu receio. “Mas não pode ser assim, minha filha, tem que dar um tempo pra ele repor as energias, eu trago um pouco mais tarde...” “Eu preciso é agora!” Basofa desabou com um empurrão.

Shirley invadiu a casa da vizinha e viu aquele homem de costas peludas bater uma massa na bacia, na cozinha. Sobre a mesa, farinha, maisena, água e cola Tenaz.
Machal

2 comentários:

Anônimo disse...

Compreendo...

porque há quem endureça perante um mastro imponente e pingão. Há o que se excita com a ponta fina e penetrante dum salto scarpam, seguido do cabo do chicote; existe amor no ato de futucar a própria rabeta enquanto se estica o cabresto do colega de trabalho. A travecagem, Howell, é também um acto sincero.

Anônimo disse...

merda minha ou sua: o importante é que nos unimos no mau cheiro.