domingo, novembro 26, 2006

De fora pra dentro

A força dos genes do pai servente de pedreiro, talvez modificados pela dureza da vida, fez com que Washington nascesse com uma anatomia incomum, pelo menos na infância. Das origens naturais, digamos, herdou o atarracamento e as narinas chatas, como duas rolhas de poço.

O garoto troncudo era o orgulho do pai. O amor paterno era latente, mas normalmente manifestado à distância. Se aproximava do garoto para mostrar aos amigos a grande e roxeada, quase preta, bolsa escrotal. Acima daquela pele enrugada e de rigidez variável de acordo com o clima, precipitava-se o priapo do infante: fino e desproporcionalmente grande para um bebê de oito meses. As mãos tinham dedos finos, como de uma moça, e o polegar grosso, tal qual o do pai.

Talvez fosse falta de mimos, o fato é que se distraia com as mãos, apertando os dedos, sentindo texturas e olhando seus pequenos instrumentos. Não tardou para que descobrisse a química perfeita entre polegar e boca. Chupava compulsivamente a principal característica que sobrara de seu velho. Passava o dedão pelo céu da boca, deslizava o tato pela formação óssea e o forçava contra as paredes da bochecha. "É normal. Os dentes já vão nascer", sentenciou com infindável ar de sabedoria o dentista do SUS, recém saído dos corredores da faculdade.

Desgostoso, o pai matou uma garrafa de aguardente, rangendo os dentes a cada gole, e aceitou. "Pelo menos é pintudo", pensou em meio à bebedeira. Com o tempo o garoto foi perdendo o interesse pelo dedo, já destruído depois de meses de forte sucção. O vício tinha sido tão intenso que o maxilar parecia ter se desviado para frente, aumentando as características símias já ressaltadas pelos buracos nasais.

Depois de largar o dedo, Washington ficou sorumbático. Andava de soslaio pelos cantos do barraco e pelo quintal, onde passava a maior parte do tempo. Gostava de mijar na areia de depois fuçar com a mão. O quentinho do líquido, misturado à aspereza dos grãos, o agradava. não tardou para que passasse a esfregar a massa barrenta pelos braços e pernas. Fazia isso escondido. Pela absoluta falta de educação, não tinha noção do que é certo ou errado, mas sentia que seria repreendido caso fosse pego. Por isso se divertia durante a tarde, enquanto o pai estava fora e a mãe cuidava das mãos e pés de suas clientes.

Percebeu que quanto mais água bebesse, mais mijaria e se deliciaria em sua banheira particular. Era essa sua maneira de aprender, sozinho. Num dos banhos enquanto passava a areia molhada pelo corpo e rolava de um lado para outro, sentiu insuportável coceira no cu. Contorceu os dedos do pé e não tardou em socar a mão no rabo. Esfregava com força os finos dedos, quase sem unha, mas cheios de areia, nas paredes externas do ânus.

Acabava de descobrir uma nova forma de prazer. No início se sentia estranho em roçar os dedos lambuzados de areia barrenta pelo cu. Tentava esperar pela coceira. Instintivamente deixava de limpar os restos de bosta dos mingaus e papinhas que lhe enfiavam goela abaixo. Segurava o mijo até a barriga inchar, a espera da coceirinha gostosa. Assim que ela vinha, saia correndo de frente da TV para o quintal. Já tinha perdido o medo de ser flagrado: disparava da mangueirinha jatos intermitentes e fortes. Metralhava a areia do quintal, tirava as roupas e mergulhava de peito. Dava três braçadas e socava com vontade o dedo no cu.

Gostava de brincar com todas as falanges, dentro e fora, mas o dedão era o preferido. Tirava o membro com os cantos da unha apinhados de bosta. Cafungava com força e ria marotamente. Imitava com a boca a forma do ânus e metia-lhe dentro o dedo cagado. Seguiu com o vício por vários meses, até se distrair com outras coisas. Nunca foi descoberto. Só deixou o pai desgostoso quando o velho viu que o velho hábito de Washington de chupar o dedo havia voltado.
Mr. Loath Some

2 comentários:

Anônimo disse...

Mr. Loath Some, vê-se que seu texto encaixou-se perfeitamente na linha editorial de merda de Olho de Porco.

Anônimo disse...

Mr. Loath Some,

foi impossível saber do menino que se emporcalhava na areia melada e não me lembrar que também o fiz na infância. não me refiro a falangeta penetrante: eu e meu irmão costumávamos mijar na areia e dizer pro filho duma vizinha que se tratava de toddy. eu tinha 11 e meu irmão, 10. Ele uns cinco e os lábios embolorados de cobreiro. e isso não nos abalava: o problema na boca do pirralho não saía de mim, tampouco da bexiga do meu irmão, mas dos cachorros que perambulavam pelo bairro, e com as mesmas patas que pisoteavam badalhocas desconhecidas, sapateavam a areia lá da nossa rua.

boas memórimas