segunda-feira, novembro 13, 2006

Lacraias e lesmas na atmosfera

Os miseráveis da Galiléia logo perceberam: aquele que se materializara ali em frente era um sujeito diferente: como poderia da respiração de suas narinas sair pequenas borboletas coloridas?

– Meu projeto é o melhor. Vejam bem vocês. Vou distribuir minha proposta de governo e tenho certeza de que se analisarem, pessoas inteligentes como são, vão perceber...

E enquanto falava o homem de camisa azul e gravata sóbria, de sua boca voavam pétalas de rosas perfumadas como a verdade mais absoluta da mais sublime das escrituras.

– E o que o senhor vai fazer pelos jovens?, perguntou o jovem pescador da Galiléia, que naqueles idos estava certamente fodido e mal pago.

– Os jovens são o futuro da nação, temos que dar oportunidades. Oportunidade de emprego, incentivar empresas a conceder o primeiro trabalho ao jovem cheio de vontade e garra. Sem falar nos estudos. Porque um país sem o saber é um país entregue ao esquecimento e longe do que nosso povo merece e tem direito. É preciso transformar essas cavernas áridas em escolas, ministrar cursos profissionalizantes, fazer o financiamento a juros populares de instrumentos de trabalho...

E enquanto o homem abanava os braços, flores das mais lindas
surgiam pelo solo desértico da Galiléia; da poeira de suas pegadas nasciam pequenos marsupiais, uma seriema e um filhote de tigre albino. Na empolgação mais extrema, do encontro de suas palmas, escorreu lentamente um unicórnio. O eleitorado enxotou os animais, que por onde correram nasceu grama.

– Mas do que adianta curso e varas de pescar com molinetes italianos se o Mar da Galiléia não tem peixe nem pra remédio?, rebateu o velho pescador oposicionista.

– Meu senhor, vejo que ainda não teve a merecida oportunidade de analisar meu plano de governo. Na página 121 está claro. Vou encher o Mar da Galiléia de peixes: carpas japonesas, tambaquis, pirarucus, lambaris, pacus, traíras também, por que não? Vou distribuir o cheque-peixe. Cada cidadão terá o direito de pescar o seu peixe todo o dia. Nenhuma criança mais passará fome. Vou consolidar projetos e fazer muito mais.

Um par de arco-íris já saía dos olhos do palestrante, transformava em uma fábrica de cestas-básicas uma grande rocha onde eram sacrificadas as prostitutas velhas, quando o leproso rastejante chegou às suas sandálias de pescador da Galiléia, mesmo porque na página 157 estava claro que era necessário incentivar a produção nacional.

– Beije, homem, beije meus pés.

Quando o lábio inferior – que de tão podre parecia mais a xoxota de uma vaca em fase gasosa de putrefação – tocou a joanete, num estouro subiu o enxofre: o leproso foi-se, substituído por um caucasiano saudável. O candidato não mais era: em seu lugar um bode de camisa azul e gravata serena.

O povão ergueu o bicho em seus braços e gritou: – Já ganhou!, Já ganhou! Por trás dos ombros surgiram bandeiras em longas lanças marrons!

Jogado para cima, na mais alta atmosfera que poderia alcançar com a força daqueles bíceps miseráveis, o bode peidou: de seu cu voaram lacraias gigantes e lesmas ácidas em meio a um caldo molhado.
John Howell

5 comentários:

equipe com pregas de porco disse...

Nada mais no mundo seria maldição maior que assistir ao gentil satanás subir aos céus expelindo aqueles demônios do cu.

Mutum

Ao invés de lacraias e lesmas, por que o bode não soltava jatos de buceta no povo? Acho que, principalmente as anciãs e as crianças, teriam deleite maior.

Machal

equipe com pregas de porco disse...

De mui grado estou por conviver com essas duas figuras que me encantam.

Howell

equipe com pregas de porco disse...

Façamos sexo, portanto, como dois parafusos (nós) a espanar uma rosca destemperada e inocente (tu), como se ela fosse de chumbo, e nossos sulcos de diamante.

O encanto é todo nosso, gato!

Agora, respondas: de onde vem esta nossa compulsão pelo bom gosto?

Macau e Mutum

equipe com pregas de porco disse...

digo-lhe: aqui só entra dedo de donzela fina, que saiba seguir o manual do fio-terra, que mui em breve estará entre nós!

equipe com pregas de porco disse...

sobre a compulsão, acho que vem do coração sagrado que palpita em nós: tipo um Deus!

JH

JH