– Meu projeto é o melhor. Vejam bem vocês. Vou distribuir minha proposta de governo e tenho certeza de que se analisarem, pessoas inteligentes como são, vão perceber...
E enquanto falava o homem de camisa azul e gravata sóbria, de sua boca voavam pétalas de rosas perfumadas como a verdade mais absoluta da mais sublime das escrituras.
– E o que o senhor vai fazer pelos jovens?, perguntou o jovem pescador da Galiléia, que naqueles idos estava certamente fodido e mal pago.
– Os jovens são o futuro da nação, temos que dar oportunidades. Oportunidade de emprego, incentivar empresas a conceder o primeiro trabalho ao jovem cheio de vontade e garra. Sem falar nos estudos. Porque um país sem o saber é um país entregue ao esquecimento e longe do que nosso povo merece e tem direito. É preciso transformar essas cavernas áridas em escolas, ministrar cursos profissionalizantes, fazer o financiamento a juros populares de instrumentos de trabalho...
E enquanto o homem abanava os braços, flores das mais lindas surgiam pelo solo desértico da Galiléia; da poeira de suas pegadas nasciam pequenos marsupiais, uma seriema e um filhote de tigre albino. Na empolgação mais extrema, do encontro de suas palmas, escorreu lentamente um unicórnio. O eleitorado enxotou os animais, que por onde correram nasceu grama.
– Mas do que adianta curso e varas de pescar com molinetes italianos se o Mar da Galiléia não tem peixe nem pra remédio?, rebateu o velho pescador oposicionista.
– Meu senhor, vejo que ainda não teve a merecida oportunidade de analisar meu plano de governo. Na página 121 está claro. Vou encher o Mar da Galiléia de peixes: carpas japonesas, tambaquis, pirarucus, lambaris, pacus, traíras também, por que não? Vou distribuir o cheque-peixe. Cada cidadão terá o direito de pescar o seu peixe todo o dia. Nenhuma criança mais passará fome. Vou consolidar projetos e fazer muito mais.
Um par de arco-íris já saía dos olhos do palestrante, transformava em uma fábrica de cestas-básicas uma grande rocha onde eram sacrificadas as prostitutas velhas, quando o leproso rastejante chegou às suas sandálias de pescador da Galiléia, mesmo porque na página 157 estava claro que era necessário incentivar a produção nacional.
– Beije, homem, beije meus pés.
Quando o lábio inferior – que de tão podre parecia mais a xoxota de uma vaca em fase gasosa de putrefação – tocou a joanete, num estouro subiu o enxofre: o leproso foi-se, substituído por um caucasiano saudável. O candidato não mais era: em seu lugar um bode de camisa azul e gravata serena.
O povão ergueu o bicho em seus braços e gritou: – Já ganhou!, Já ganhou! Por trás dos ombros surgiram bandeiras em longas lanças marrons!
Jogado para cima, na mais alta atmosfera que poderia alcançar com a força daqueles bíceps miseráveis, o bode peidou: de seu cu voaram lacraias gigantes e lesmas ácidas em meio a um caldo molhado.
John Howell
5 comentários:
Nada mais no mundo seria maldição maior que assistir ao gentil satanás subir aos céus expelindo aqueles demônios do cu.
Mutum
Ao invés de lacraias e lesmas, por que o bode não soltava jatos de buceta no povo? Acho que, principalmente as anciãs e as crianças, teriam deleite maior.
Machal
De mui grado estou por conviver com essas duas figuras que me encantam.
Howell
Façamos sexo, portanto, como dois parafusos (nós) a espanar uma rosca destemperada e inocente (tu), como se ela fosse de chumbo, e nossos sulcos de diamante.
O encanto é todo nosso, gato!
Agora, respondas: de onde vem esta nossa compulsão pelo bom gosto?
Macau e Mutum
digo-lhe: aqui só entra dedo de donzela fina, que saiba seguir o manual do fio-terra, que mui em breve estará entre nós!
sobre a compulsão, acho que vem do coração sagrado que palpita em nós: tipo um Deus!
JH
JH
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